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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Guilhotina


 
 

  Não bastasse todo o horror que já tinha vivido naquele dia, ainda estava sendo arrastado. Michel vira seus pais serem guilhotinados bem na sua frente e agora, por ser menor, fora desapropriado de sua humilde casa e suas poucas coisas. Um camponês comprara-lhe como se fosse um animal. Ele tinha vontade de chorar, de gritar, de correr, mas nada disso adiantaria naquele momento. Tinha que ser forte como seu pai fora, mantendo uma postura segura mesmo segundos antes de sua morte humilhante.

  Roubaram alimento para ele e seus irmãos, e na confusão daquela fase negra da Revolução Francesa, muito mal foram levados a julgamento. Com um aceno de mãos, o burguês decretara pena de morte. Cada um de seus irmãos fora levado e ele fora a leilão como escravo. Aquilo era mais do que um menino de quatorze anos poderia aguentar, mas Michel o fez com bravura. Condensou seus sentimentos e trabalhou cada dia com resignação.

  Até que chegou o momento em que ele soube que não deveria mais estar ali naquelas condições. Depois de dois anos, Michel fugiu. E eu gostaria muito de dizer que as coisas melhoraram, mas elas apenas mudaram.

  Depois de anos vivendo como injuriado ladrão de pão, conhecera a moça mais bonita que seu pobre coração poderia ter. Gabrielle com seus cabelos escuros e olhos pequenos. Nada de cabelos loiros como as outras moças. Ele não sabia de onde ela vinha, mas todos a rejeitavam por sua peculiaridade. Ele estava apaixonado.

  Com toda a atenção que ela nunca recebera, Gabrielle apaixonou-se também pelo moço de cabelos ruivos. Ela se mostrava intrigada pela força no corpo franzino do homem com que se casara logo que seu pai falecera. Ele chegara bem quando ela mais precisara.

  Michel fizera seu melhor para arrumar uma profissão minimamente digna para manter sua família. Engraxate. Era o melhor que podia fazer e mesmo assim não era suficiente para sustentar seus dois filhos e a nova criança no ventre de sua esposa.

  A época não era das melhores. Fome. Os pobres querem comer. Bastilha. Michel leva um tiro. Mais um guilhotinado pela miséria.

 
 


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