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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Resenha de Amar, Verbo Intransitivo





  Interessei-me pelo livro quando meu professor de literatura disse que ninguém deveria morrer sem ler esse livro. Eu estava certa que iria ler Capitães de Areia quando bati o olho nesta obra de Mario de Andrade na biblioteca. Quem sabe na próxima vez eu não leia a obra de Jorge Amado? De qualquer forma, vamos à resenha em si.
  Já na sinopse do livro fica claro que o autor não faz questão de escrever com português absolutamente correto, já que ele come muitas virgulas e até começa frases com pronome oblíquo. Mas, ora, ele era um modernista, e além disso, queria deixar o seu legado da forma como o brasileiro falava em seu tempo, o que conseguiu com maestria. De fato, a impressão que tive era de estar ouvindo a voz do narrador. Aliás, é um narrador muito notável, dividindo o papel principal com Fraülein. Esta é uma alemã que é contratada como governanta na casa dos Sousa Costa, mas na verdade, ela apenas estava lá para iniciar o filho mais velho da família no amor. E quando digo isso, refiro-me a mais que uma noite, ela realmente o ensina a importância de um amor tranquilo.
  Mas não pense que por isso, o livro é tenso. É classificado como idílio, ou seja, um romance leve. Confesso que às vezes até esquecia que era romance de tanto que gargalhei com esta obra. As irmãs mais novas são fundamentais nessa graça. Todas as personalidades tem personalidades tão bem construídas que me pareceram reais. O pai com seu jeito ocupado e um tanto indeciso; a mãe de atitudes impulsivas e exageros; Carlos e seus desastres acidentais; Maria Luiza e suas doenças e pequenas maldades; Laura e sua fase de "estou aprendendo a ler, tenho que ler tudo"; Aldinha espevitada e com pouca vergonha do mundo; Fräulein e suas conversas alemãs interiores. São personagens que deixam saudades. Cinco estrelas, com certeza.

  Alguns de meus trechos mais românticos ou reflexivos favoritos estão logo abaixo. Não escolhi os cômicos pois são mais longos e se inserem em um contexto único.


- Ninguém duvide: esse um que lê com mais compreensão e entusiasmo um escrito é autor dele.

- É coisa que se ensine o amor? Creio que não. Pode ser que sim.

- Porém descobrira o perfume das rosas. Perfume sutil e fugitivo, ôh! a boniteza das vistas!... Às vezes se surpreendia parado diante das sombras misteriosas. As tardes, o lento cair das tardes... Tardes. Surgia nele esse gosto de andas escoteiro, cismando. Cismando em quê?
Cismando, sem mais nada. Devia de ter felicidades quentes além... Estava pertinho do suspiro, sem alegria nem tristeza, suspiro, no silêncio amigo do luar.

Te amo ❤- Se você ama, ou por outra se já deseja no amor, pronuncie baixinho o nome desejado. Veja como ele se moja em formas transmissoras do encosto que enlanguesce. Esse ou essa que você ama se torna assim maior, mais poderoso. E se apodera de você. Homens, mulheres, fortes, fracos... Se apodera. E pronunciado, assim como ela faz, em frente do outro, sai e se encosta no dono, é beijo.



- São os personagens que escolhem os seus autores e não estes que constroem suas heroínas. Virgulam-nas apenas, pra que os homens possam ter delas conhecimento suficiente.

- Mas por que insistiram, se não queriam? Ninguém o saberá jamais. Insistiram, simplesmente.

- Eu não sei se alcançar a felicidade máxima, extasiar-se aí, e sentir que ela, apesar de superlativa, inda cresce, e reparar que inda pode crescer mais... isso é viver? A felicidade é tão oposta à vida que, estando nela, a gente esquece que vive.

- A gente nunca deve desmanchar a comidinha das crianças.

- Vós não brincais por brincadeira, não... Brincais por treino, exercendo em diminutivo a angustiosa adivinhação da existência.

- Não adiantava nada, porém amor brasileiro é assim: puxa-puxa, contrai, estica, mas largar não larga mesmo.

- As imagens da saudade atulham tanto o caminho!... Varra isso daí! Tenho pressa e a vinda inteira ainda por viver...

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