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sábado, 10 de setembro de 2016

16 de dezembro de 2015.

 



  Há anos atrás eu gostaria de ter visto o mundo e ter tido um pedaço dele. Gostaria de ter feito de tudo nas noites quentes de verão. Teria sido até ambiciosa em querer diamantes e viagens, mas agora tudo me parecia tão longínquo. Até mesmo as coisas que almejo agora me parecem distantes. Inclusive você.
  O café fica pronto e despejo o escuro líquido em minha xícara. O som que costumava ser relaxante agora me angustia profundamente. Observo-o cair e vejo tudo sem foco. Tão sem foco quanto minha vida.
  Ouço um barulho de chave. É ele. Coloco a cafeteira na pia e vou em direção à porta. Vejo Hugo retirando um pôster vermelho de um filme que gostávamos da parede. Queria perguntar o que estava fazendo, mas, ao mesmo tempo, me bastava observar. Ele se virou e sorriu, tranquilo.
  - Tenho algo para nós dois. - ergueu um pano escuro que devia ser um pedaço de blusa velha. - Mas preciso que seja surpresa.
  Eu queria um beijo, um abraço, um "estava com saudades", mas estava tudo bem assim também. Ao menos eu tentava me convencer disso.
  - O que você está arrumando?
  - Já não disse que é surpresa? - repreendeu-me.
  - Tudo bem.
  Calo-me e ele me conduz para fora do apartamento, tranca-o, e me guia escada abaixo. Entramos num carro, um táxi, deduzo quando ele passa o endereço. Não é uma rua que eu conheça, mas as referências são lugares que ele gostava muito de ir. Eu gostava também.
  Hugo cantarola o ritmo de uma de suas músicas favoritas. Eu não gostava dessa. Momentos depois, desço do carro e ele orienta até um lugar que eu identifico como elevador assim que sinto a peculiar sensação nas panturrilhas e estômago. Subindo.
  Paramos algumas vezes antes de sairmos. Barulho de chaves, uma porta se abre, a venda é retirada. Um espaço branco e mediano se mostra à minha frente. O cômodo principal correspondia ao tamanho da minha sala e quarto juntos. As paredes brancas pediam uma nova pintura, mas havia algo de aconchegante nelas. Havia apenas uma vassoura vermelha no lugar.
  - O que é isso?
  - Nosso espaço. Dessa vez a gente vai dividir tudo. - ele entrou e com fita adesiva colou o pôster em uma das paredes. - E arrumar tudo.
  Olho para aquele lugar e nos vejo arrastando móveis para lá e para cá, apagando e acendendo as luzes ao dormir e acordar. Havia algo de elétrico e belo em seu olhar e eu o amei ainda mais.  Perguntei-me então se você um dia deixaria de me amar. Talvez quando eu não fosse mais jovem ou bonita como costumava me dizer... Senti meus olhos encherem de lágrimas. Abracei-o, beijei-o e disse:
  - Senti saudades. - suspirei. - Obrigada.
  Ele posicionou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e me olhou ternamente. Soube então a resposta para minha pergunta. Eu sabia que sim.

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