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sábado, 17 de setembro de 2016

24 de dezembro de 2015.



 
  Sentada no sofá, o único móvel novo que eles conseguiram comprar, Ana passeava o dedos sobre o controle remoto de sua antiga tv. Sem disposição para liga-la, no entanto. Reparou que a lâmpada precisava ser trocada, no entanto, a luz dos postes da rua invadia a sala pela janela. Já havia assistido o pôr do sol, avisado para seus pais que assim que desse aparecia na casa deles e cozinhado até que de boa vontade alguns petiscos para quando Hugo voltasse.
  Ela não tinha grandes expectativas para o Natal desde que se lembrava. Ele muito menos, era ateu. Ainda assim, Ana acredita em Algo Maior. Só não sabia explicar. E, de alguma forma, aquele Natal era diferente. Era o primeiro que passariam juntos em seu novo apartamento.
  Vinte e três horas e quarenta e cinco minutos. Hugo havia ido resolver alguns problemas da loja de discos com o primo. Ele sairia da sociedade para correr atrás de uma antiga vontade: o curso de gastronomia. Isso havia feito o corpo dela se revirar com algo que há muito desconhecia: o desejo de uma mudança real para si. Talvez devesse seguir os passos dele e sair daquela cafeteria.
  Olhou pela janela. Não havia ninguém na rua, a não ser uns poucos infelizes sem destino. Tudo parecia tão solitário lá fora. Ele não estava vindo. Não havia nada para ela olhar. Talvez ela devesse estar em outro lugar. Voltou para o sofá.
  Ana acendia e apagava o isqueiro que Hugo havia esquecido incessantemente. Imaginou se ele já teria dado falta do objeto. Provavelmente sim. Imaginou se ele já teria dado falta dela. Não estavam tão longe assim, mas o poder da data fazia-o parecer estar a quilômetros de distância.
  Meia noite. 25 de dezembro de 2015. Acendeu o isqueiro mais uma vez, sentiu o calor em seu rosto e fechou os olhos.
  "Deus... Ou qualquer força maior que eu... Por favor, olhe por nós. Faça-nos sentir abraçados ao menos uma vez na vida."
  Terminou sua prece silenciosa e soprou a chama, retirando o dedo que a acionava logo em seguida, simulando o apagar do fogo de uma vela. Colocou o objeto azul no braço do sofá e correu os dedos para o celular.
"Já está chegando?" enviou a mensagem.
"Ocorreu um imprevisto. Vou dormir aqui na casa do meu primo. Quer vir pra cá?" respondeu cinco minutos depois. Ela pensou realmente em ir, mas não queria passar essa noite em outro lugar a não ser em sua própria casa.
"Não... Te vejo amanhã."
"Ok. Feliz Natal."
  Era um desejo vazio. Ele não se importava com aquela data. Ela fingia não se importar também, mas agora percebia que não adiantava negar isso para si mesma. Sentida, deitou-se no sofá e adormeceu.


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