Neverland pensei_falei@hotmail.com - -

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

13 de janeiro de 2016.

trefoiled:
“  Spencer Isitt
”


 
  Era uma tarde de quarta-feira. Havia saído mais cedo do teatro, já na intenção de passar no apartamento e fazer as malas. Ao conversar com Carina e Matheus e me expor como nunca antes, percebi que, de fato, eu não podia mais continuar vivendo daquele jeito. É estranho como às vezes a gente se convence com a opinião de novos conhecidos e ignora a de velhos amigos e a de nós mesmos. A gente tem essa falsa impressão de que uma possível imparcialidade é mais sábia.
  Com a chave na porta do apartamento que eu conhecia há menos de um mês, eu confesso que sentia algum tipo de esperança. Abri a porta e, para minha surpresa, a televisão estava ligada e exibia um show de uma banda de rock. Ele estava em casa. Ao ouvir o barulho da porta, Hugo apareceu vindo da cozinha.
  - Ana? Pra onde você foi?
  Não tinha a intenção de responder, mas antes que eu reagisse, a mãe de Hugo aparecera.
  - Sara. - assenti com a cabeça, em um cumprimento forçado. Ela não gostava de mim e isso me obrigava a evitar o máximo de contato com ela.
  - Ela não dormiu aqui hoje? - perguntou para o filho como se eu não estivesse lá. - Eu sabia que um dia essa garota podia aparecer grávida, mas se não for filho seu, aí já é demais.
  Eu estava cansada demais para me calar dessa vez.
  - A senhora não se preocupa não, dona Sara, que hoje mesmo eu vou embora. Vê se arruma uma mulher melhor pra ele.
  Fui até o quarto e tranquei a porta.
  - É o melhor que você faz pra ele, minha filha. E quem sabe faz até um bem pra você também. Vê se encontra um rumo pra essa sua vida! - meu coração já estava partido e a cada palavra que proferiam meu sofrimento aumentava.
  Peguei a mala velha de pano que eu usara para a mudança anterior e joguei meus pertences essenciais. Eu não tinha muita coisa pra chamar de minha, mas havia enchido a bolsa.
  Eu ouvia Hugo discutir com a mãe do lado de fora, mas eu me esforçava para ignorá-los e focar apenas em meu trabalho. Ouço um barulho da porta e deduzo que ela havia ido embora.
  - Ana, você não pode ir embora! - ele bate na porta, mas não repondo.
 Deixava algumas coisas para trás, mas eu não me importava de nunca mais voltar a vê-las. Não pretendia voltar, era um caminho sem volta.
  Abro a porta e sem olhar para ele atravesso a sala. Eu tinha medo do que podia acontecer, mas não podia permanecer acorrentada. Ele mesmo havia dado a deixa para as mudanças, agora tinha que lidar com as consequências.
  - Você sabe muito bem porque estou indo. Por favor, Não me procure mais.
  Ele segurou meu pulso, mas com um puxão, soltei-me e praticamente corri para fora do local. Andares abaixo, porta de prédio agora. Lá fora estava frio, mas o céu estava claro. A luz que entrava em meus olhos não me cegava, ela parecia deixar claro tudo o que mudaria. Minha vida estava pela metade, mas quando ela se completasse novamente, ela não dependeria de mais ninguém além de mim.

0 comentários:

Postar um comentário

Seguidores

Popular Posts

Quem sou eu

Minha foto
Escritora, professora, universitária, leitora ávida, amante das artes.
Tecnologia do Blogger.